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Mostrando postagens de 2008

O Gentil Joca

Eu fiquei toda aquela tarde me remoendo por dentro, com aquela mãe das angustias... Era chato falar da dor, é vergonhoso sofrer porque o mundo é uma merda, nessa horas, eu, digníssimo Tristan, gostaria de mudar o mundo, porém todas as pessoas têm vergonha de si, e supostamente de mim. Eu, que não tenho vergonha de chorar, não tenho medo de andar sozinho à noite, nem de me destruir todinho pra me refazer todas as manhãs... bebi. Sóbreo é difícil se convencer e sofrer. - Ó fiel escudeiro! - Ó maldito e triste Tristão!!! Claro que o encontraria no Milk's, onde mais encontraria meu caro e bêbado amigo? Posto que o Joca se encontrava lá desde às dez e meia da manhã, e posto que ele ficava profundamente triste nos domingos, já estava completamente cozido, cozidinho. - Estou com a mãe das angustias... não sei se bebo mais ou se faço uma revolução, o problema é que nós estranhos não somos levados a sério, você já sofreu porque o mundo é mundo? - Todos os dias, eu trabalho de segunda

O Digníssimo "João"

O Digníssimo “João” Aqueles lábios carnudos. Eu sem saber o que dizer. - E então, como você está? - Acho muita gentileza sua perguntar... não sei se convém responder. Não havia nada pra responder, eu não sabia como eu estava. Eu não sabia quem eu era, algumas coisas pegam a gente pelo pé e tudo começa a ruir. As paredes da minha casa estavam pintadas agora e o ambiente parecia alegre fora o dono mórbido ali dentro. - Tudo bem, eu entendi que você não quer responder. Eu só passei pegar minhas coisas. - Leve-as... são suas mesmo. - Você não vai mudar nunca não é? - É, Tristan o bravio será sempre o mesmo. - Então acho que você sabe porque eu estou indo embora. Acendi o cigarro mais gostoso da minha vida. Eu sabia, não entendia mas sabia. Preferia que ela fosse, afinal de contas nem morava aqui. - Você nunca ficou de verdade, não tem como ir embora de verdade, ta indo embora de mim, não da minha casa. Da minha casa só eu posso ir embora. - Não vou tentar mudar

O pianista

Eram memórias muito claras... eu o sentia no piano. Aquela sala vazia, a Balade No. 1 de Chopin. Eu estava na janela olhando pra rua. A fumaça ia se misturando. Cada nota, cada tecla. Ele tocava sempre como se fosse a primeira e a última vez. Olhava e não podia chegar perto. Um sonho em que não se pode tocar nada. Sente-se. Vez em quanto eu olhava. As costas e a mão indo e vindo em um bocado de oitavas. Correndo em um bocado de oitavas. E de repente alegre. De repente triste, violento, calmo e às vezes nada. O que podia não ser, o que podia ter sido. Os velhos e confusos pensamentos e eu sem poder chegar perto, a música cada vez mais rápida, cheia de uma expressão rompante e magnífica. Cada tecla. Eu acordava sem pensar no que era vivo mas na vida que tinha. No sentimento que tinha. Natural. Sentir é natural. Sentir tão longe. Tanto tempo. O tempo nem é tempo. Eu mentia o tempo pra poder chegar mais perto. O sonho ia se desfazendo com o tempo, a fumaça, e uma coisa sem nenhuma dor,
No Almoço Eu estava lá, sentado, esperando alguma coisa acontecer. Havia duas horas que eu estava lá sentado esperando algo acontecer e o Joca me ligou. - Alô. - Ó Tristan!! Salve salve ser humano!! Como vai? Vamos beber hoje? - Não. - Como não? Aposto minhas calças que você estava aí, sentado no seu sofazinho florido olhando pra porta esperando algo acontecer. - Eu devo ser muito previsível então. - Claro que é, só foi imprevisível ao negar meu convite... ou não...você sempre nega primeiro e depois muda de idéia. Combinado então!! No Milk’s ás sete e alguma coisa. - Você não quer almoçar comigo? - Tristan, você é o cara mais carente no almoço que eu já vi... O Joca desligou o telefone sem nem saber se eu havia concordado ou não, o que era típico dele posto que no fim das contas eu sempre ia e também não aceitou meu convite pra almoçar. É simplesmente horrível almoçar sozinho. Posso ficar só o dia todo...mas no almoço, é muito cruel. Eu fui tomar um banho, tirar o cheiro de cerveja