Eu fiquei toda aquela tarde me remoendo por dentro, com aquela mãe das angustias... Era chato falar da dor, é vergonhoso sofrer porque o mundo é uma merda, nessa horas, eu, digníssimo Tristan, gostaria de mudar o mundo, porém todas as pessoas têm vergonha de si, e supostamente de mim. Eu, que não tenho vergonha de chorar, não tenho medo de andar sozinho à noite, nem de me destruir todinho pra me refazer todas as manhãs... bebi. Sóbreo é difícil se convencer e sofrer.
- Ó fiel escudeiro!
- Ó maldito e triste Tristão!!!
Claro que o encontraria no Milk's, onde mais encontraria meu caro e bêbado amigo? Posto que o Joca se encontrava lá desde às dez e meia da manhã, e posto que ele ficava profundamente triste nos domingos, já estava completamente cozido, cozidinho.
- Estou com a mãe das angustias... não sei se bebo mais ou se faço uma revolução, o problema é que nós estranhos não somos levados a sério, você já sofreu porque o mundo é mundo?
- Todos os dias, eu trabalho de segunda a sábado, sou contratado e mal pago... você acha que eu não sofro porque o mundo é mundo? Além de tudo sou feio e porco, ah! E pobre.
Vejo que o ser humano é estranho, e que eu sou até que bem normal. Eu desejo ar puro, bicicleta, comida fresca, pessoas rindo, elefantes com seus marfins, os malditos "colarinhos brancos" a sete palmos do chão e por aí, a maioria dos meus desejos são baratos... os do Joca também eu acho, e os do Tuca Borna (excelentíssimo senhor do Milk's bar) é uma mesa de carteado, daquelas bem bonitas, com pano verde.
- O que você deseja?
- Imediatamente?
- Pode ser...
- A morte...mas acho que ela não me escuta, e suicídio parece um ato muito paradoxal pra um rato.
- Joca, você realmente me impressiona com as suas observações. Mas e não imediatamente?
- Que a ressaca seja branda...
Fiquei com o Joca mais um tempo no Milk's, é satisfatório ficar com alguém gentil, não muito esperançoso, mas gentil. Umas das coisas que mais me fazia amigo do Joca. Fui embora apressado com se alguma insatisfação me pedisse pressa. Eu já não sentia mais muito amor por nada. Ao meu redor o que tinha era hostilidade e algo que me incomodava, quase que o tempo todo, e uma vontade de largar tudo. Deixar tudo pra trás, como se até então nada tivesse valido a pena. Como se todos os que eu queria que me ouvissem me podassem. Como se eu só falasse merda e como se a minha angustia e inconformismo não fizesse sentido. Fiquei pensando se meu fiel escudeiro não era uma pessoa que só eu via, se eu não era esquizofrênico ou qualquer outra coisa assim... alguém tão gentil não podia existir...e não existia. Eu só precisava encontrar alguém que soubesse ou quisesse ouvir, alguém que gostasse do Tristan como ele é, realista, angustiado, utópico com relação a humanidade, auto destrutivo, desesperado, alguém que me quisesse com todos os meus defeitos... e com as minhas quase nenhumas qualidades. Alguém que não tivesse vergonha de quem chora, sangra, sonha, sente. Alguém que não tivesse vergonha de um ser humano. Andei bastante pela rua e já era madrugada. E como era fria a madrugada. E eu não vi ninguém na rua com olhar compassivo. Quase nem vi ninguém na rua... as pessoas vivem o medo e só o medo, todos os dias. E noites também.
Precisava aprender o que era me bastar novamente. Sem esperar que alguém me entendesse ou sem esperar muito de alguém. Voltei ao Milk's, o Joca ainda estava lá, e todos estavam vendo o gentil e bêbado Joca na mesa.
- Sabe, andei procurando alguém bem legal por aí... que fosse bem gentil e achei que você não existia...
- Você pode ser esquisito, o humano mais esquisito e ... esquisito que eu conheço, mas você não é esquizofrênico. O fato de eu ser pobre, feio, sujo e gentil não me tira o mérito estranho da existência. E como vão seus joelhos?
- Melhores... melhores do que eu.
- Não se procura alguém que entenda... tem é que procurar entender que ninguém entende, e que solidão é companheira, mais do eu ou você. E a perda é a vitoria zelosa de quem sabe não querer nada e por isso tem tudo aos seus pés, que as pessoas quase que não têm esperanças nem acreditam nas outras. E assim se entende que os dia são todos com começos e fins, e cada manhã é diferente, é só olharmos com olhos de quem nunca viu o sol raiar, mesmo que entre as nuvens cinzentas. Isso meu caro Tritão, pode ser filosofia de bar, mas pra um coração partido e uma alminha engraçada, porém desacreditada, serve.
- Ó fiel escudeiro!
- Ó maldito e triste Tristão!!!
Claro que o encontraria no Milk's, onde mais encontraria meu caro e bêbado amigo? Posto que o Joca se encontrava lá desde às dez e meia da manhã, e posto que ele ficava profundamente triste nos domingos, já estava completamente cozido, cozidinho.
- Estou com a mãe das angustias... não sei se bebo mais ou se faço uma revolução, o problema é que nós estranhos não somos levados a sério, você já sofreu porque o mundo é mundo?
- Todos os dias, eu trabalho de segunda a sábado, sou contratado e mal pago... você acha que eu não sofro porque o mundo é mundo? Além de tudo sou feio e porco, ah! E pobre.
Vejo que o ser humano é estranho, e que eu sou até que bem normal. Eu desejo ar puro, bicicleta, comida fresca, pessoas rindo, elefantes com seus marfins, os malditos "colarinhos brancos" a sete palmos do chão e por aí, a maioria dos meus desejos são baratos... os do Joca também eu acho, e os do Tuca Borna (excelentíssimo senhor do Milk's bar) é uma mesa de carteado, daquelas bem bonitas, com pano verde.
- O que você deseja?
- Imediatamente?
- Pode ser...
- A morte...mas acho que ela não me escuta, e suicídio parece um ato muito paradoxal pra um rato.
- Joca, você realmente me impressiona com as suas observações. Mas e não imediatamente?
- Que a ressaca seja branda...
Fiquei com o Joca mais um tempo no Milk's, é satisfatório ficar com alguém gentil, não muito esperançoso, mas gentil. Umas das coisas que mais me fazia amigo do Joca. Fui embora apressado com se alguma insatisfação me pedisse pressa. Eu já não sentia mais muito amor por nada. Ao meu redor o que tinha era hostilidade e algo que me incomodava, quase que o tempo todo, e uma vontade de largar tudo. Deixar tudo pra trás, como se até então nada tivesse valido a pena. Como se todos os que eu queria que me ouvissem me podassem. Como se eu só falasse merda e como se a minha angustia e inconformismo não fizesse sentido. Fiquei pensando se meu fiel escudeiro não era uma pessoa que só eu via, se eu não era esquizofrênico ou qualquer outra coisa assim... alguém tão gentil não podia existir...e não existia. Eu só precisava encontrar alguém que soubesse ou quisesse ouvir, alguém que gostasse do Tristan como ele é, realista, angustiado, utópico com relação a humanidade, auto destrutivo, desesperado, alguém que me quisesse com todos os meus defeitos... e com as minhas quase nenhumas qualidades. Alguém que não tivesse vergonha de quem chora, sangra, sonha, sente. Alguém que não tivesse vergonha de um ser humano. Andei bastante pela rua e já era madrugada. E como era fria a madrugada. E eu não vi ninguém na rua com olhar compassivo. Quase nem vi ninguém na rua... as pessoas vivem o medo e só o medo, todos os dias. E noites também.
Precisava aprender o que era me bastar novamente. Sem esperar que alguém me entendesse ou sem esperar muito de alguém. Voltei ao Milk's, o Joca ainda estava lá, e todos estavam vendo o gentil e bêbado Joca na mesa.
- Sabe, andei procurando alguém bem legal por aí... que fosse bem gentil e achei que você não existia...
- Você pode ser esquisito, o humano mais esquisito e ... esquisito que eu conheço, mas você não é esquizofrênico. O fato de eu ser pobre, feio, sujo e gentil não me tira o mérito estranho da existência. E como vão seus joelhos?
- Melhores... melhores do que eu.
- Não se procura alguém que entenda... tem é que procurar entender que ninguém entende, e que solidão é companheira, mais do eu ou você. E a perda é a vitoria zelosa de quem sabe não querer nada e por isso tem tudo aos seus pés, que as pessoas quase que não têm esperanças nem acreditam nas outras. E assim se entende que os dia são todos com começos e fins, e cada manhã é diferente, é só olharmos com olhos de quem nunca viu o sol raiar, mesmo que entre as nuvens cinzentas. Isso meu caro Tritão, pode ser filosofia de bar, mas pra um coração partido e uma alminha engraçada, porém desacreditada, serve.
Eu não sabia como ele sabia... mas foi muito gentil da sua parte...
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