Encarava-o. Seus olhos estavam tristes, marejados. Algo incomodava.
- Mais vinho?
- Obrigada.
Sorrira sutilmente. Ele lhe sorria também, havia dor por trás dos maxilares quadrados, havia dor naqueles olhos.
- Podíamos ter dado muito certo não? Éramos bons juntos...
- Sim. Éramos...
- Nunca faltou risada não é?
- Fato.
Ela era orgulhosa, difícil. Não permitia que ninguém a possuísse de verdade. Dava-se apenas aos despautérios de si mesma. Tinha medo naquela época. Hoje não mais, mas naquela época tivera muito medo.
- Vamos falar de você... como você está? Tudo bem?
- A medida do possível, sim.
Ela mentia. Não estava bem, era inquieta embora não deixasse transparecer.
- Nada a incomoda não é?
- Algumas coisas me incomodam, mas nada me incomoda o suficiente para me tirar a paz. Você me parece incomodado. Quer que eu vá embora?
- Não.
Ele não queria. O que ele queria era uma máquina do tempo, que devolvesse seus cabelos longos e vivacidade, que devolvesse também a garota orgulhosa e fria que namorou e agora era aquela mulher pálida, magra e com olhos distantes.
- Embora eu saiba que não é mais você, eu prefiro que você fique, quero te olhar mais um pouco. Se você não tivesse sido tão orgulhosa, e fria, talvez...
- Eu não tenho coração, temos quatro patas. O tempo só fez nos tornar mais resilientes e nos entregarmos cada vez menos.
- Você não mudou nada.
- Mudei sim, eu não tenho mais medo de ser racional. Também não tenho medo de perder, nem de mentir. Eu sou o monstro que muitos gostariam de ser mas não têm coragem. Sou o monstro e o verme de mim mesma.
Ele a olhava, observava atento os olhos cínicos e suavemente doentios dela. De certa maneira não acreditava no que ouvia.
- Eu sofri, mas você sofreu mais e eu não me importei. Embora me importe com seu sofrimento agora, lá atrás, eu não me importei. Preferi transferir o fardo para outra pessoa, e aproveitar minha liberdade em paz. Eu não tenho remorso. Só me arrependo de nunca ter te dito que eu te adorava, e te adoro, ainda.
Ele ficou pasmo, não esperava ouvir aquilo. Levantou, ela se levantara também, arfavam, testa contra testa, um centauro e um touro. Beijaram-se. Ela tirou o revolver da bolsa. Eles se afastaram.
- Atira na minha cabeça, por favor, é tudo culpa dela.
- Um tiro no peito e um na cabeça, porque a culpa nunca é só da cabeça... tem que estourar o coração.
- Mais vinho?
- Obrigada.
Sorrira sutilmente. Ele lhe sorria também, havia dor por trás dos maxilares quadrados, havia dor naqueles olhos.
- Podíamos ter dado muito certo não? Éramos bons juntos...
- Sim. Éramos...
- Nunca faltou risada não é?
- Fato.
Ela era orgulhosa, difícil. Não permitia que ninguém a possuísse de verdade. Dava-se apenas aos despautérios de si mesma. Tinha medo naquela época. Hoje não mais, mas naquela época tivera muito medo.
- Vamos falar de você... como você está? Tudo bem?
- A medida do possível, sim.
Ela mentia. Não estava bem, era inquieta embora não deixasse transparecer.
- Nada a incomoda não é?
- Algumas coisas me incomodam, mas nada me incomoda o suficiente para me tirar a paz. Você me parece incomodado. Quer que eu vá embora?
- Não.
Ele não queria. O que ele queria era uma máquina do tempo, que devolvesse seus cabelos longos e vivacidade, que devolvesse também a garota orgulhosa e fria que namorou e agora era aquela mulher pálida, magra e com olhos distantes.
- Embora eu saiba que não é mais você, eu prefiro que você fique, quero te olhar mais um pouco. Se você não tivesse sido tão orgulhosa, e fria, talvez...
- Eu não tenho coração, temos quatro patas. O tempo só fez nos tornar mais resilientes e nos entregarmos cada vez menos.
- Você não mudou nada.
- Mudei sim, eu não tenho mais medo de ser racional. Também não tenho medo de perder, nem de mentir. Eu sou o monstro que muitos gostariam de ser mas não têm coragem. Sou o monstro e o verme de mim mesma.
Ele a olhava, observava atento os olhos cínicos e suavemente doentios dela. De certa maneira não acreditava no que ouvia.
- Eu sofri, mas você sofreu mais e eu não me importei. Embora me importe com seu sofrimento agora, lá atrás, eu não me importei. Preferi transferir o fardo para outra pessoa, e aproveitar minha liberdade em paz. Eu não tenho remorso. Só me arrependo de nunca ter te dito que eu te adorava, e te adoro, ainda.
Ele ficou pasmo, não esperava ouvir aquilo. Levantou, ela se levantara também, arfavam, testa contra testa, um centauro e um touro. Beijaram-se. Ela tirou o revolver da bolsa. Eles se afastaram.
- Atira na minha cabeça, por favor, é tudo culpa dela.
- Um tiro no peito e um na cabeça, porque a culpa nunca é só da cabeça... tem que estourar o coração.
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