Foi a primeira coisa... pensei em me encerrar... só isso. Encerrar pode não parecer uma boa palavra... mas é melhor que nada. Eu não fazia sentido, bem como minha dor e vazio também não. Mas minha dor e meu vazio eram tão meus e tão eu que pra fazer toda essa coisa parar era só os encerrando, encerrando-me. É isso que se faz com uma coisa oca... encerra-se a coisa. Ou liberta-se a coisa. Independente de ser coragem ou covardia era o que parecia mais sensato dentro de um confuso...no entanto eu não tinha nem coragem suficiente e nem covardia suficiente. "Mas não chora não... a tua dor é só tua." Esta noite acordei no escuro e abri meus olhos cheios d'agua e então eu vi a escuridão molhada nos meus olhos. O tempo comia a noite devagar e eu não aguentava mais ficar acordado, o tempo comia tudo devargar, sem pressa nenhuma, porque é dono de si. Só havia tristeza, e tristeza nem o maior amor do mundo compartilha. Tristeza se senta e sente. E se sente sozinho, oco. E se sente sozinho porque ninguém quer dor pra compartilhar, pra entender. Aí que tentei meu grito mudo de socorro... alguém me ajuda! Mas ninguém ouviu meu pedido mudo, oco e triste de socorro. Preso pelo corpo num quarto escuro, ouvia os cachorros latirem para outros cachorros e as pessoas roncarem pra lua.
- Então é isso? - Como assim? - Assim ora! Você simplesmente vai embora? - É. Vou. - Não vai nem me fazer nenhuma promessa? De que volta, ou que eu sou o que você sempre sonhou e tal? - Não. Veja, eu preciso ir, não é nada pessoal, mas tenho muito o que resolver. - Do quê? - O quê? - Tem que resolver? - O de sempre, trabalho, casa, filhos, enfim, o de sempre. - Hum... Entendo - Não entende não, e nem se esforce. Até. Ela partiu sem fazer nenhuma promessa.
Comentários