- Então é isso? - Como assim? - Assim ora! Você simplesmente vai embora? - É. Vou. - Não vai nem me fazer nenhuma promessa? De que volta, ou que eu sou o que você sempre sonhou e tal? - Não. Veja, eu preciso ir, não é nada pessoal, mas tenho muito o que resolver. - Do quê? - O quê? - Tem que resolver? - O de sempre, trabalho, casa, filhos, enfim, o de sempre. - Hum... Entendo - Não entende não, e nem se esforce. Até. Ela partiu sem fazer nenhuma promessa.
Encarava-o. Seus olhos estavam tristes, marejados. Algo incomodava. - Mais vinho? - Obrigada. Sorrira sutilmente. Ele lhe sorria também, havia dor por trás dos maxilares quadrados, havia dor naqueles olhos. - Podíamos ter dado muito certo não? Éramos bons juntos... - Sim. Éramos... - Nunca faltou risada não é? - Fato. Ela era orgulhosa, difícil. Não permitia que ninguém a possuísse de verdade. Dava-se apenas aos despautérios de si mesma. Tinha medo naquela época. Hoje não mais, mas naquela época tivera muito medo. - Vamos falar de você... como você está? Tudo bem? - A medida do possível, sim. Ela mentia. Não estava bem, era inquieta embora não deixasse transparecer. - Nada a incomoda não é? - Algumas coisas me incomodam, mas nada me incomoda o suficiente para me tirar a paz. Você me parece incomodado. Quer que eu vá embora? - Não. Ele não queria. O que ele queria era uma máquina do tempo, que devolvesse seus cabelos longos e vivacidade, que devolvesse tamb...